CRÔNICA Nº 53
TENTAÇÃO DO
CÃO
Hoje, 1º de dezembro de 2012,
sábado, estou na escola Raymundo Matta... fazendo o quê? Dando aula, ora! Exatamente isso que
vocês pensaram: dando aula em pleno sábado?! Pois é, isso é o castigo, imposto
aos professores maus, que fizeram greve de quatro meses. Imposição do governo
da Bahia. Se são úteis essas aulas? Não
muito, mas temos que vir, sob pena de levarmos falta.
Da turma do 3º ano, compareceram
apenas duas alunas; da turma do 2º ano, compareceram cerca de quinze alunos. Destes, após a chamada, saíram
cerca de nove e por volta de seis ficaram para ouvir a leitura de crônicas, mas
não foi só isso... em dado momento, a porta de madeira foi fechada. Ao abri-la
constatamos que a grade de ferro também estava fechada, só que com um
cadeado e não se sabe quem trancou a tal
grade e se alguém sabe, não revelou o autor da brincadeirinha de mau gosto. Deixaram a mim e
os seis alunos lá dentro, pior que isso,
jogaram a chave fora. Dos seis alunos presos, uns quatro saltaram a parede pro
lado de fora da sala, depois uns dois pularam de volta pra sala, enfim, o que
aconteceu foi a própria tentação do cão.
É evidente que sabemos o motivo da
tal “arte”. Foi simplesmente para perturbar, pirraçar, tirar a tranqüilidade
das pessoas, mas acho que especialmente a minha, dessa vez, porém, “o tiro saiu
pela culatra”, porque eu nem tava aí pro acontecido, sentada eu estava lendo,
sentada eu fiquei, mais tranquila do que nunca.
Temos nessa turma uma aluna com
dificuldade de locomoção, ela anda, mas tem um pequeno problema em suas pernas,
então minha maior preocupação era com ela, porque quando os alunos saíram pela
parede, ficamos eu e ela lá dentro, presas, sozinhas. Ela me olhava com jeito
de preocupada.
Os
engraçadinhos sugeriram que eu pulasse a parede também. Agora vejam, eu, a
professora, subindo naquela parede, como uma lagartixa, para sair da sala. Primeiro,
eu nuca subiria aquela parede e segundo,
eu jamais abandonaria a aluna na sala, isso seria uma grande covardia e eu não
sou covarde e não fujo das situações por
mais difíceis que elas sejam, muito menos dessa, que nem preocupada eu fiquei.
Foram chamar o vice-diretor da tarde
que estava nos assistindo neste sábado letivo e ele quis saber quem foi o espertinho
que havia feito aquilo, mas qual... ninguém sabia. O funcionário também subiu e
depois de constatar o acontecido desceu para buscar algo que quebrasse o
cadeado e quem fez o “servicinho sujo”
foi um dos alunos mais gaiatos da turma,
claro! Ele adorou fazer aquilo, até eu mesma gostei daquela traquinagem, afinal
eu dependia daquilo para sair dali.
O que é a vida, uma palhaçada de um aluno engraçadinho
ou de alunos engraçadinhos, fez o sábado letivo muito agitado. O acontecimento,
porém, é passível de punição, pois isso não se faz com
ninguém. Espero que isso não se repita, porque as consequências podem ser
devastadoras para o autor dessas proezas.
Resumindo a ópera: foi um sábado letivo bastante
divertido... apesar dos pesares...
Alba
Brito Mascarenhas
Salvador,
1º de dezembro de 2012
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