CRÔNICA Nº 10
Este texto será sobre um sonho que tive há algum tempo, não lembro exatamente quando, mas trabalhava em um colégio que fica em Colinas de Periperi, por isso a data nem presumida poderá ser, assim colocarei uma que seja mais ou menos entre 2007 e 2008.
O sonho aconteceu no dia que dormi em Periperi, na casa de um colega que também era professor da mesma escola.
Sonhei que estava noiva, o noivo eu nem sei quem era, não o reconheci no sonho, mas estava noiva desse cabra macho. Macho e machista. Pois bem, estávamos numa casa grande, numa sala enorme, toda branca. Piso de mármore branco e de paredes muito alvas. Esta casa era do tal cara e de suas irmãs e todos eles moravam ali, eu não, eu não morava ali. Eu estava sentada num sofá enorme e confortável, também branco, na paz de Deus, muito bem vestida, de salto, perfumada, maquiada, toda bela. De repente, não mais que de repente, chegou o tal noivo, com baldes, panos de chão, vassouras e rodos na mão; me olhou de cima, já que ele estava em pé e eu sentada, em situação inferior a ele, e me disse:
- Alba, vá limpar a sala!
Entregou os materiais em minhas mãos e eu, meio que hipnotizada, levantei e obediente saí da sala e fui para um quartinho para me trocar e ir limpar a tal sala. Lá, me vesti com uma velha camiseta e uns shorts para fazer o trabalho. Ocorreu que no meio dessa preparação, eu parei, joguei o material pro lado e disse a mim mesma:
- O quê? Eu, limpar aquela sala enorme, toda branquinha? É ruim, hein?! Eu lá sou empregada dele? Não, não vou fazer nada disso. Ele diz que me ama e me manda limpar a casa? Isso é amar, é? Isso é amar, é? Não, isso não é amar!
Saí da tal casa indignada, fui embora pra nunca mais voltar.
Esse sonho deu a maior resenha na escola. Quando cheguei no outro dia e contei pra galera, todo mundo riu muito, adorou o sonho e virou o bordão de todos os professores, foi para o mural da escola e tudo que nos indignava nós dizíamos: “ Isso é amar, é?” “ Isso é amar, é?”...
Nunca esqueci o sonho porque o contei trezentas vezes e, além disso, era bem encadeado, com início, meio e fim.
Foi muito divertido, mas verdade jamais seria, pois nunca me submeteria a ninguém dessa forma, ainda mais pra fazer trabalho doméstico, que eu odeio, só o faço em minha casa porque não tem jeito e a única coisa que ainda faço com gosto é alguma comida, afinal se eu não a fizer como comerei? Como me sustentarei? Como ficarei em pé? Se bem que no sonho eu só me submeti por uns minutos, inicialmente, mas depois pensei melhor e me piquei que não sou besta nem nada, nem em sonho. Tem gente que pensa... pensa coisa até pior de mim, mas como eu me amo muito e tenho auto-estima, danem-se aqueles que pensam isso ou aquilo de mim, enquanto perdem tempo comigo, eu vivo a minha vida e sou feliz, mesmo sendo professora...
Isso sim é amar! Isso sim é amar! É se amar.
Alba Brito Mascarenhas
Salvador, 2008