sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ISSO É AMAR, É?


CRÔNICA  Nº 10
ISSO É AMAR, É?


Fonte da imagem: recantodasletras.com.br

            Este texto será sobre um sonho que tive há algum tempo, não lembro exatamente quando, mas trabalhava em um colégio que fica em Colinas de Periperi, por isso a data nem presumida poderá ser, assim colocarei uma que seja mais ou menos entre 2007 e 2008.
            O sonho aconteceu no dia que dormi em Periperi, na casa de um colega que também era professor da mesma escola.
            Sonhei que estava noiva, o noivo eu nem sei quem era, não o reconheci no sonho, mas estava noiva desse cabra macho. Macho e machista. Pois bem, estávamos numa casa grande, numa sala enorme, toda branca. Piso de mármore branco e de paredes muito alvas. Esta casa era do tal cara e de suas irmãs e todos eles moravam ali, eu não, eu não morava ali. Eu estava sentada num sofá enorme e confortável, também branco, na paz de Deus, muito bem vestida, de salto, perfumada, maquiada, toda bela. De repente, não mais que de repente, chegou o tal noivo, com baldes, panos de chão, vassouras e rodos na mão; me  olhou de cima, já que ele estava em pé e  eu sentada, em situação inferior  a ele, e me disse:
- Alba, vá limpar a sala!
Entregou os materiais em minhas mãos e eu, meio que hipnotizada, levantei  e  obediente  saí  da sala e fui para um quartinho para me trocar e ir limpar a tal sala. Lá, me vesti com uma velha camiseta e uns shorts para fazer o trabalho. Ocorreu que no meio dessa preparação, eu parei, joguei o material pro lado e disse a mim mesma:
- O quê? Eu, limpar aquela sala enorme, toda branquinha? É ruim, hein?!  Eu lá sou empregada dele? Não, não vou fazer nada disso. Ele diz que me ama e me manda limpar a casa? Isso é amar, é? Isso é amar, é? Não, isso não é amar!
Saí da tal casa indignada, fui embora pra nunca mais voltar.
Esse sonho deu a maior resenha na escola. Quando cheguei no outro dia e contei pra galera, todo mundo riu muito, adorou o sonho e virou o bordão de todos os professores, foi para o mural da escola e tudo que nos indignava nós  dizíamos: “ Isso é amar, é?” “ Isso é amar, é?”...
Nunca esqueci o sonho porque o contei trezentas vezes e, além disso, era bem encadeado, com início, meio e fim.
Foi muito divertido, mas verdade jamais seria, pois nunca me submeteria a ninguém dessa forma, ainda mais pra fazer trabalho doméstico, que eu odeio, só o faço em minha casa porque não  tem jeito e a única coisa que ainda faço com gosto é alguma comida, afinal se eu não a fizer como comerei? Como me sustentarei? Como ficarei em pé? Se bem que no sonho eu só me submeti por uns minutos, inicialmente, mas depois pensei melhor e me piquei que não sou besta  nem nada, nem em sonho. Tem gente que pensa... pensa coisa até pior de mim, mas como eu me amo muito e tenho auto-estima, danem-se aqueles que pensam isso ou aquilo de mim, enquanto perdem tempo comigo, eu vivo a minha vida e sou feliz, mesmo sendo professora... 
Isso sim é amar!  Isso sim é amar!  É se amar.


Alba Brito Mascarenhas
Salvador, 2008