domingo, 4 de agosto de 2013


   CRÔNICA Nº 58
O DIA QUE SE ACENDEU
        Acordo para trabalhar por volta das 5h30min, enrolo um pouco com preguiça de levantar, mas lá para as 6h da manhã eu saio da cama. O tempo anda muito fechado e aí a preguiça é ainda maior.
       Ontem eu acordei mal-humorada, chateada, triste, nervosa e ao invés de me arrumar pra sair eu deitei no sofá. De repente ao fechar os olhos uma luz se acendeu do outro lado da minha cortina azul e branca. Aquela luz era a luz do dia, o tempo se abrindo, mas não se abrindo como normalmente... abriu de uma só vez, como uma lâmpada que se acende numa sala escura. Tomei o maior susto e imediatamente me pus de pé, tal foi minha surpresa com o fenômeno. Vemos o tempo abrir-se aos poucos; aos poucos a luz vai dando lugar à escuridão, mas de vez como foi, me deixou, além de surpresa, encantada. 
     O dia 17/07/2013 foi muito especial e nunca vou esquecer a sensação de ver o dia acender e iluminar toda a minha casa e por conseguinte a minha vida. Foi lindo, espantoso, maravilhoso e ao mesmo tempo assustador.



Alba Brito Mascarenhas
Salvador, 18 de julho de 2013

CRÔNICA Nº 57
O CACHORRO SABIDO
             Para trabalhar devo pegar ônibus que em geral são cheios e apertados, por isso decidi que desceria para o Dique do Tororó, em frente à Arena Fonte Nova, para pegar o transporte vazio e poder ir sentada até a escola. Desço uma ladeira enorme chamada Ladeira do Pepino. Ela é longa e íngreme e quando você pensa que acabou ela recomeça, pois na sua metade tem uma grande lombada que dá impressão de que ela acabou, mas qual nada... ela continua, mas como não é infinita, ela acaba na pista do Dique. Pois bem, ali há uma sinaleira que demora cerca de dois minutos e meio para abrir para que possamos passar. 
           As pessoas se aglomeram de um lado e de outro da pista, no passeio, e em meio a tanta gente de vez em quando tem um ou outro cachorro da redondeza. O mais freqüente é um cachorro branco, de tamanho médio e com pouco pelo.
           O cachorro branco senta em meio ao povo e fica ali, paradinho, nem o rabo mexe, fica atento, olha os carros passando e fica. Algumas pessoas se arriscam e atravessam em pleno sinal vermelho, mas aquele cachorrinho jamais faz essa besteira. Ele aguarda com paciência o momento em que a sinaleira ficará verde pra que possa passar. O sinal abre e ele imediatamente se levanta, todo garboso e com passos firmes atravessa junto com todo mundo.
         Bicho sabido, inteligente, cumpridor da lei de trânsito, muito mais esperto que muita gente que teima em arriscar a própria vida desobedecendo uma simples lei.
          Esse cachorro, é ou não é porreta?


Alba Brito Mascarenhas
Salvador, 18 de julho de 2013

terça-feira, 14 de maio de 2013

CRÔNICA Nº 56 - TELENOVELAS



CRÔNICA Nº 56

TELENOVELAS



“Intelectualóides”, pseudo comunistas/socialistas, que têm as ideias mais atrasadas do mundo, totalmente foras de moda, revoltados e afins, burgueses  ridículos e demais classes metidas a serem não sei o quê, acham que a telenovela é coisa de gente alienada. Pois bem, eu discordo inteiramente dessa ideia, mas se gostar de novela é ser alienado, “eu vos digo:” eu sou alienada.
Sou professora de literatura, tenho obrigação de apreciar todos os gêneros literários, inclusive este; ai de quem diga que telenovela não é gênero literário, é gênero menor, que não é arte ou coisas parecidas.
Pessoas que afirmam coisas que desvalorizam a novela de TV, são no mínimo ignorantes, pois escrever novela é coisa de gente muito inteligente  e envolve muitas outras pessoas igualmente inteligentes. Quem importa com o que essa gente que não vê TV pensa?
A verdade é que telenovela é coisa muito interessante  e não importa se o enredo é inteligente, bobo, cultural, histórico ou  muito realista... para mim, quanto mais a história é boba, sem sentido, fraca, totalmente fora da realidade, mais divertida ela é.  
As novelas de época são ótimas para aprendermos história  e saber coisas do nosso passado; as ligadas aos temas espirituais são maravilhosas; as que tratam de temas que nem imaginamos que possam existir, de coisas extraordinárias, de um mundo que não alcançamos, essas então, a gente mergulha de cabeça no enredo. A gente discute, fica com raiva, vibra, discorda, concorda...é um gênero rico e cheio de possibilidades de exploração da imaginação humana e se alguém discorda desses pensamentos, o problema é desse alguém, porque enquanto as pessoas discordam, os autores “bombam” na TV, a TV “bomba” na audiência e eu que sou apaixonada por telenovelas e por televisão “bombo” na minha diversão.

Alba Brito Mascarenhas
Salvador, 13 de maio de 2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

CRÔNICA Nº 54 - A MORTE E A VIDA


CRÔNICA Nº 54 - A MORTE E A VIDA
Essa crônica é dedicada à minha mãe

A morte é um grande mistério, assim como a vida... a morte das pessoas que amamos é algo mais incompreensível ainda. Buscamos explicações para tudo o que acontece na vida, mas é em vão. Quando alguém adoece, rezamos pedindo cura, temos esperança, otimismo, mas de repente descobrimos que nada no mundo impede a chegada da morte e que de nada adianta pedir e rogar porque ela é implacável e nem mesmo quem a criou, seja o ser do bem ou o do  mal,  evita o seu momento de chegar.
Ninguém nesse mundo desencarna, falece, vai pra outro plano ou dimensão, seja o nome ou a definição que inventem, nada, ninguém, nenhum ser carnal ou espiritual, nenhuma religião, oração ou coisas afins evita esse triste acontecimento... passa pelas famílias arrasando tudo, acabando os laços, separando seres que se amam profundamente, separa apenas fisicamente, porque provavelmente todos ficamos ligados pelo espírito, se é que isso também existe. A morte muitas vezes retira a fé, a crença...
Hoje faz 26 dias que minha mãe nos deixou... dizem que ela foi para o pai, dizem também que ela está no paraíso, no céu, junto com Maria e São José, com Deus, com Cristo, enfim, dizem tantas coisas... eu, sinceramente, não sei pra onde ela foi, só sei que foi, e gosto de pensar que ela talvez esteja por aqui por perto, perto da gente ou  em qualquer lugar onde o espírito possa ir pra ver seus  parentes que ficaram na terra... e que nos olhe de onde estiver, que cuide de pai que ficou aqui sozinho e triste, pois, viveram por 54 anos juntos, dormindo na mesma cama sem nuca se separarem, só quando ela adoeceu, foi para o hospital e de lá não voltou viva.
Sonho com ela insistentemente, desde que se foi. Sonho quase todas as noites, de todas as formas imaginárias: viva, dormindo, doente, andando, em festas junto com a gente, descansando, enfim...
A pessoa que perdeu sua mãe ou seu pai, ou aquela que já não tem nem um e nem o outro, jamais será a mesma pessoa de antes, perder essas pessoas queridas é como deixar você sem referência na vida, é um ser solto no mundo. Quando perde um deles e fica o outro, a sua balança fica desequilibrada; um prato lá embaixo e o outro lá em cima. Acho que quando uma pessoa perde os dois a balança se arrebenta em definitivo, o equilíbrio acaba totalmente.
A saudade é avassaladora, a dor é imensa e mesmo a pessoa não chorando, escandalizando, se arrebentando, ela está ali, persistente, teimando. Muita gente chora; alguns muito, outros pouco;  aliás, chorar é natural, é normal  e os que ficam por mais fortes que sejam uma hora desabam e choram. Muitas vezes  não adianta em nada, mas é necessário desabafar...
Falar pode ajudar, mas também não é solução para o sofrimento. O sofrimento perdurará por muito tempo e se passará um dia, não sei, mas é muito difícil viver sem a mãe, pois ela, é o nosso norte, nossa bússola e sem ela de alguma forma nos perdemos.


Salvador, 30 e 31 de janeiro de 2013
Alba Brito Mascarenhas