sexta-feira, 8 de março de 2013

CRÔNICA Nº 54 - A MORTE E A VIDA


CRÔNICA Nº 54 - A MORTE E A VIDA
Essa crônica é dedicada à minha mãe

A morte é um grande mistério, assim como a vida... a morte das pessoas que amamos é algo mais incompreensível ainda. Buscamos explicações para tudo o que acontece na vida, mas é em vão. Quando alguém adoece, rezamos pedindo cura, temos esperança, otimismo, mas de repente descobrimos que nada no mundo impede a chegada da morte e que de nada adianta pedir e rogar porque ela é implacável e nem mesmo quem a criou, seja o ser do bem ou o do  mal,  evita o seu momento de chegar.
Ninguém nesse mundo desencarna, falece, vai pra outro plano ou dimensão, seja o nome ou a definição que inventem, nada, ninguém, nenhum ser carnal ou espiritual, nenhuma religião, oração ou coisas afins evita esse triste acontecimento... passa pelas famílias arrasando tudo, acabando os laços, separando seres que se amam profundamente, separa apenas fisicamente, porque provavelmente todos ficamos ligados pelo espírito, se é que isso também existe. A morte muitas vezes retira a fé, a crença...
Hoje faz 26 dias que minha mãe nos deixou... dizem que ela foi para o pai, dizem também que ela está no paraíso, no céu, junto com Maria e São José, com Deus, com Cristo, enfim, dizem tantas coisas... eu, sinceramente, não sei pra onde ela foi, só sei que foi, e gosto de pensar que ela talvez esteja por aqui por perto, perto da gente ou  em qualquer lugar onde o espírito possa ir pra ver seus  parentes que ficaram na terra... e que nos olhe de onde estiver, que cuide de pai que ficou aqui sozinho e triste, pois, viveram por 54 anos juntos, dormindo na mesma cama sem nuca se separarem, só quando ela adoeceu, foi para o hospital e de lá não voltou viva.
Sonho com ela insistentemente, desde que se foi. Sonho quase todas as noites, de todas as formas imaginárias: viva, dormindo, doente, andando, em festas junto com a gente, descansando, enfim...
A pessoa que perdeu sua mãe ou seu pai, ou aquela que já não tem nem um e nem o outro, jamais será a mesma pessoa de antes, perder essas pessoas queridas é como deixar você sem referência na vida, é um ser solto no mundo. Quando perde um deles e fica o outro, a sua balança fica desequilibrada; um prato lá embaixo e o outro lá em cima. Acho que quando uma pessoa perde os dois a balança se arrebenta em definitivo, o equilíbrio acaba totalmente.
A saudade é avassaladora, a dor é imensa e mesmo a pessoa não chorando, escandalizando, se arrebentando, ela está ali, persistente, teimando. Muita gente chora; alguns muito, outros pouco;  aliás, chorar é natural, é normal  e os que ficam por mais fortes que sejam uma hora desabam e choram. Muitas vezes  não adianta em nada, mas é necessário desabafar...
Falar pode ajudar, mas também não é solução para o sofrimento. O sofrimento perdurará por muito tempo e se passará um dia, não sei, mas é muito difícil viver sem a mãe, pois ela, é o nosso norte, nossa bússola e sem ela de alguma forma nos perdemos.


Salvador, 30 e 31 de janeiro de 2013
Alba Brito Mascarenhas