CRÔNICA Nº 67
SOLIDÃO: TER OU NÃO TER?
As
pessoas se preocupam muito com a vida dos outros esquecendo-se de suas
próprias. Algumas chegam ao cúmulo de perguntarem às mulheres que não casaram,
se elas são pessoas felizes ou tristes por viverem sozinhas, sem um marido,
como se tê-lo fosse garantia de felicidade.
Não me casei e quando me
perguntam se vivo na solidão ou coisa do gênero, respondo taxativamente: — não,
não vivo na solidão, não sou infeliz, muito pelo contrário, adoro viver
sozinha, faço o que quero, decido a minha vida, só dependo do meu dinheiro para
viver e faço com ele aquilo que decido! Na minha casa tudo que boto no
lugar fica, minha bagunça é mantida sem
que ninguém reclame. Amo a minha vida.
Ser uma pessoa bem resolvida
emocionalmente ajuda muito nas questões ligadas ao viver só. Ter uma mente sã
faz a pessoa “tirar de letra” os momentos ruins. É claro que nós, mulheres,
necessitamos ter um homem que nos ame e queira dividir sua vida conosco, mas o
fato de não tê-lo não implica na nossa total infelicidade, muitas vezes, a
presença de um homem na vida de certas mulheres as atrapalha e aí sim, as fazem
infelizes.
Eis um impasse próprio da
vida, e para tentar explicar e entender, parafraseio o “ Ser ou não ser, eis a questão”, de Shakespeare, em Hamlet,
perguntando: ter ou não ter? Eis a
questão. Ter um homem e apesar disso ter solidão? Não ter o homem e ter
solidão? Não ter um homem, não ter solidão e ainda assim ser feliz? Ser feliz
mesmo estando na solidão?
As
questões estão postas.
Estar sozinho nem sempre
significa estar na solidão. Na realidade você pode sentir solidão em meio a muitas
pessoas.
Penso que não há solidão
maior do que não ter mãe ou pai, pois eles são os nossos nortes, nossas
referências e exemplos de vida e sem eles somos como bússolas quebradas e aqui
eu afirmo: solidão é não ter os pais para beijar, abraçar e dividir suas
preocupações e problemas. Não ter um homem é “fichinha” perto de não ter mãe ou
pai.
A
solidão pode ser uma grande aliada. Os escritores precisam dela para escrever,
pois não se cria em meio ao caos. Atores para memorizar textos; professores
para planejar seus trabalhos, políticos para planejar suas mentiras, religiosos para meditarem, mas não se pode nem
se deve cair em sua armadilha porque,
a solidão é o “underground” do homem,
no
fundo da alma moram a tristeza,
a melancolia, a depressão.
Estar sozinho na multidão,
pensamentos em turbilhão.
Buscar a si mesmo,
com força descobrir-se,
lutar para curar-se,
deixar o túnel escuro do estar só,
voar para a liberdade e ser feliz.
Seguir em frente
rumo ao encontro com as pessoas,
com o amor, com a vida em família
e
finalmente o encontro com a paz,
pois às vezes ficar só é importante, a
solidão faz bem em alguns momentos, mas não podemos pautar a nossa vida por ela, senão ela nos toma, abarca nosso ser e nos prende no seu alçapão e para
sair dele dá trabalho e muita confusão.
Alba Brito Mascarenhas
Salvador, 19 / 31 de
dezembro de 2013.