terça-feira, 18 de dezembro de 2012

TENTAÇÃO DO CÃO



CRÔNICA Nº 53
TENTAÇÃO DO CÃO

            Hoje, 1º de dezembro de 2012, sábado, estou na escola Raymundo Matta... fazendo  o quê? Dando aula, ora! Exatamente isso que vocês pensaram: dando aula em pleno sábado?! Pois é, isso é o castigo, imposto aos professores maus, que fizeram greve de quatro meses. Imposição do governo da Bahia. Se  são úteis essas aulas? Não muito, mas temos que vir, sob pena de levarmos falta.
            Da turma do 3º ano, compareceram apenas duas alunas; da turma do 2º ano, compareceram cerca de  quinze alunos. Destes, após a chamada, saíram cerca de nove e por volta de seis ficaram para ouvir a leitura de crônicas, mas não foi só isso... em dado momento, a porta de madeira foi fechada. Ao abri-la constatamos que a grade de ferro também estava fechada, só que com um cadeado  e não se sabe quem trancou a tal grade e se alguém sabe, não revelou o autor da  brincadeirinha de mau gosto. Deixaram a mim e os seis alunos lá dentro, pior  que isso, jogaram a chave fora. Dos seis alunos presos, uns quatro saltaram a parede pro lado de fora da sala, depois uns dois pularam de volta pra sala, enfim, o que aconteceu foi a   própria tentação do cão.
            É evidente que sabemos o motivo da tal “arte”. Foi simplesmente para perturbar, pirraçar, tirar a tranqüilidade das pessoas, mas acho que especialmente a minha, dessa vez, porém, “o tiro saiu pela culatra”, porque eu nem tava aí pro acontecido, sentada eu estava lendo, sentada eu fiquei, mais tranquila do que nunca.
            Temos nessa turma uma aluna com dificuldade de locomoção, ela anda, mas tem um pequeno problema em suas pernas, então minha maior preocupação era com ela, porque quando os alunos saíram pela parede, ficamos eu e ela lá dentro, presas, sozinhas. Ela me olhava com jeito de preocupada.
 Os engraçadinhos sugeriram que eu pulasse a parede também. Agora vejam, eu, a professora, subindo naquela parede, como uma lagartixa, para sair da sala. Primeiro, eu nuca subiria  aquela parede e segundo, eu jamais abandonaria a aluna na sala, isso seria uma grande covardia e eu não sou covarde e não fujo das  situações por mais difíceis que elas sejam, muito menos dessa, que nem preocupada eu fiquei.
            Foram chamar o vice-diretor da tarde que estava nos assistindo neste sábado letivo e ele quis saber quem foi o espertinho que havia feito aquilo, mas qual... ninguém sabia. O funcionário também subiu e depois de constatar o acontecido desceu para buscar algo que quebrasse o cadeado e quem fez o “servicinho  sujo” foi um dos alunos  mais gaiatos da turma, claro! Ele adorou fazer aquilo, até eu mesma gostei daquela traquinagem, afinal eu dependia daquilo para sair dali.
O que é a vida, uma palhaçada de um aluno engraçadinho ou de alunos engraçadinhos, fez o sábado letivo muito agitado. O acontecimento, porém, é   passível de punição, pois isso não se faz com ninguém. Espero que isso não se repita, porque as consequências podem ser devastadoras para o autor dessas proezas.
Resumindo a ópera: foi um sábado letivo bastante divertido... apesar dos pesares...



Alba Brito Mascarenhas
Salvador, 1º de  dezembro de 2012